Poderia dizer da generosidade, de saber de si e de sua presença. De saber de sua dimensão e fazê-lo com naturalidade. Ou, da sensação de ver alguém na plenitude da simplicidade mais genial. Como uma obra de Peter Brook, um filme de Fellini.
Fernanda Montenegro parece estar sempre onde quer e deve estar: em cena. Ali é o seu lugar e ela espalha o prazer do seu ofício como uma onda, um tsunami de talento.
Em Doce de Mãe, tive o prazer de compartilhar a cena com ela. Compartir, contracenar, ela compartilha. Não há espaço para devoção exacerbada ou louvação. Em todos os momentos, a certeza de estarmos juntos todos, num exercício sem fim. Um jogo que requer atenção, foco e uma espécie de alegria pela experiência de ser atriz. E ser atriz é emprestar-se ao personagem ou deixar que ele nos contamine. Mas, é também, atitude frente ao trabalho, posição diante do mundo. Artista.
Contracenar com Fernanda foi um presente que permitiu ainda a possibilidade de me ver por seus olhos, de me deixar criar por nossas ações, de saber de mim, atriz, acessando novos recursos. Um sopro de inspiração e amor pelo ofício.
*foto de Fábio Rebelo